Artigo sobre o filme “Os Sonhadores” de Bernardo Bertolucci

 

Que filme é este?
É melhor não deixar esfriar. “Os Sonhadores”, antes de um filme,
é uma experiência sensitiva à flor da pele, que não pode cicatrizar.
Impossível sair ileso de uma sessão como essa, uma sucessão de
sensações de prazer, como vinhos de boa safra, fluídos orgásticos e beijos apaixonados, nada técnicos. Apropriando-me de uma brincadeira proposta pelos próprios personagens: “Que filme é este?”.
Para responder de pronto a este enigma saboroso é preciso, mais uma vez, conhecer e reconhecer a obra de Bernardo Bertolucci, um mestre da narrativa intimista. Diferente de suas experiências anteriores na condução de épicos de grandes orçamentos, como “O Último Imperador” ou “Pequeno Buda”; este Bertolucci, em cartaz, é o mesmo de obras muito pessoais e pontuais, como “O Último Tango em Paris” e “Assédio”. Filmes onde simplicidade e inteligência convivem harmoniosamente.
A ação ou a falta dela acontece em um microcosmo especifico, um apartamento, uma locação basta para detonar fortes relações humanas. Este “set” restrito funciona como espelho do que acontece do lado de fora, na rua. Os dramas, as confusões, as revoluções acontecem lá fora e de alguma maneira estão refletidas aqui dentro nos íntimos jogos de poder, de sedução, de degustação.

Autor: Di Moretti